Quero andar descalça, me equilibrar no meio fio e não arrumar o cabelo quando o vento bagunçar. Falam que eu deveria valorizar minhas singelas curvas com calças mais femininas, blusas mais justas e usar sapatilha ao invés do meu querido chinelo. Mas eu gosto mesmo é de roupa folgada, que quando o vento bate, meu corpo dá sinal de existência. 

Dizem que rímel realça a beleza, mas sempre que coloco, chego a conclusão de que prefiro meus cílios ao natural mesmo. Um pouco do bom e velho lápis de olho já me faz volta à terra. Na verdade me acho linda sem maquiagem, mas não saio sem de casa porque ela distrai as pessoas, não deixando que notem minha expressão de tédio constante - sim, sem make eu tenho uma cara de tédio sem fim.

Tá ouvindo isso? É minha barriga roncando. Não, eu não quero um jantar a luz de velas. Se você fosse esperto, querido, teria notado o tempo que estou secando aquele sanduíche na vitrine. Bom, talvez eu pense que estou mostrando o que sinto, quando na verdade, estou fazendo aquilo de novo. 

Mas, vamos, pare de perguntar se eu estou bem, porque uma hora vou acabar falando a verdade, heim? Também não quero falar sobre passado, saber de onde você vem, muito menos o quão terrível é, esqueça as músicas do Roberto Carlos, apenas fique aí e me acompanhe. 

Ei, quer uma dica? Escute blues rock enquanto come porcaria de madrugada. Você não tem ideia do quão isso é maravilhoso. 

Você consegue mesmo sentar ao meu lado e ouvir três assuntos a cada minuto? Está sendo mais um deles ou faz isso porque realmente quer ficar? É bom saber que eu ouço a minha intuição, e quando se é mais um deles, ela me faz cair fora.  

Bom, talvez você me veja hoje e amanhã não. Desculpe ter falado só de mim, fui egoísta, eu sei. Mas quando quiser falar sobre você não me chame, apareça, sente-se de novo, me interrompa e fale, não faça como eles e eu vou te ouvir, responder e acompanhar.